Não temo a morte
causa
consequência
de uma parca estória
Não temo a morte
Temo o intenso
Não o ir
mas o que deixar
que maior solitário
é aquele
sem herdeiros
(legais)
para quem deixar
seus objetos
seus sonhos
dejetos de vida
Temo a solidão
Hoje
não sei o que legar
nem a quem
no entanto
cuspo meu testamento
O corpo
entrego à literatura
para ser dissecado
sugado
esgotado
até não passar
de anacoluots
metáforas
prosopopéias
elipses
elipses
Os olhos
ao fogo
Estou farta
de ver este mundo
com horizontes verticais
As mãos
à terra
adubando sementes
e criando flores
e criando frutos
A angústia
deixo em caixa dourada
de museu
para apodrecer
entre pérolas
Os medos
dôo-os aos fortes
grandes
poderosos
A garra
aos amantes
A gana
aos falsos
O novo sorriso
aos velhos naftalina
O sorriso
(antigo)
pra quem quiser
arrsicar
A vontade de ter
aos homens de fato
A vontade de ser
aos homens de direito
Um pensamento terno
aos amigos
Uma pergunta às crianças
Uma cantiga de amigo
pra um
meu mais querido
Uma cantiga de amor
e um beijo
pra ele
meu único
Um aperto de mão
em quem gostou
de mim
Um abraço pros outros
E se ainda houver tempo
para meus inexistentes
dois nomes
Renata e Pedro
Nada mais
(Poema publicado em DESCOMPASSO, 1976)
Nenhum comentário:
Postar um comentário