Não se chora
duas vezes
num só dia
se reclama
se amofina
se massacra
se alucina
mas chorar
não
nunca
duas vezes ao dia
A gente amordaça
o amargo da boca
do coração
e finge
deliberadamente
que o nó vasto
na garganta
é laço frouxo
de festa
mas chorar
não
nunca
duas vezes ao dia
Nem por amor
ou saudade
nem por medo
ou piedade
duas vezes
não
é demais
é intenso
é tolice
sem razão
Chorar
por si só
é nefasto
ridículo
Não se chora
duas vezes
nem por raiva
nem por manha
nem por morte
nem por ele
(Poema publicado em DESCOMPASSO, 1977)
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