terça-feira, 12 de abril de 2011

NÃO SE CHORA

Não se chora
duas vezes
num só dia
se reclama
se amofina
se massacra
se alucina
mas chorar
não
nunca
duas vezes ao dia

A gente amordaça
o amargo da boca
do coração
e finge
deliberadamente
que o nó vasto
na garganta
é laço frouxo
de festa
mas chorar
não
nunca
duas vezes ao dia

Nem por amor
ou saudade
nem por medo
ou piedade
duas vezes
não

é demais
é intenso
é tolice
sem razão

Chorar
por si só
é nefasto
ridículo

Não se chora
duas  vezes
nem por raiva
nem por manha
nem por morte
nem por ele

(Poema publicado em DESCOMPASSO, 1977)

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