quarta-feira, 18 de maio de 2011

NÃO ENUMERO OS MEUS MORTOS


Não enumero os meus mortos
Sinto-os com ternura
Distantes de lápides
Distantes de vermes
Não penso em seus corpos
cortados em fatias
cobertos de bolor
Não choro os seus olhos
inexistentes e tensos
Nao procuro suas mãos
buquê de ossos mal arrumado
Não vinculo suas almas
seus sorrisos
à tenra poeira fosca
a lábios cavernosos
Não visito aos domingos
com flores entre os dedos
Nem recito orações
diante de seus carcomidos epitáfios
Choro-os de quando em quando
em dias de Ano Novo
Natal
e às vezes
 em rápidos momentos
no olhar para as coisas mais vivas
São etéreos
não putrefatos
São nuvens claras
não jazigos
São amigos
que em afastadas regiões
vivem a vida nossa
Livres
Leves
Longe
Despidos do inconfortável peso
da matéria

(1974- Poema publicado em DESCOMPASSO)



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