Nada mais sou que madeira
turva
tosca
torta
tensa
Um pedaço de madeira animal
Molhada de sangue bruto
Coberta de casca grossa
Presa por raízes curtas
Nada mais sou que madeira
crua
Marcada de cicatrizes
de canivetes
machados
Vestida de corações
setas
pequenos recados
Vestida de coisas comuns
Nada mais sou que madeira
velha
E em meus braços longos
horizontais
vão se pondo
recordações
recortes de jornais
De minha raíz
pouca
Sou testemunha ocular
da morte inesperada
do sofrimento
da gana
da vontade estúpida
de gritar
Sou cúmplice
da dor
e do tédio
Não havendo remédio
para conter o chorar
Me curvo
vencida
Me deixo ficar
À distância
Bem longe de tudo
Até que todas as folhas caiam
E não reste mais nada a esperar
(Poema publicado em DESCOMPASSO, 1975)
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